Eu
lembro de uma garotinha perfeita, sem medo de seguir adiante. Essa garota tinha
uma linda família, pais presentes que a apoiaram em tudo desde o momento em que
nasceu. Eles a viram brilhar em cada apresentação da escola, eventos e
atividades que a garota fazia.
Essa
garota tinha cabelos lisos e esvoaçantes de dar inveja, corpo padrão para a
idade, nada muito chamativo, mas de qualquer forma chamava a atenção dos
garotos. Teve muitos namoradinhos que a levavam para os encontros mais
divertidos que ficaram na memória.
A
garota tinha as melhores amigas do mundo, confidentes eternas que a acompanhariam
até a vida adulta. Momentos felizes que ficaram marcados na história.
Possuía
um estilo de dar inveja e todos da sua família estavam orgulhosos das coisas
que conquistava. Conseguiu passar na melhor faculdade de São Paulo estudando
advocacia, tinha sede pelo mundo e pensamentos depressivos nunca estiveram
presentes na sua mente.
Terminou
a faculdade em tempo recorde e se casou com um médico, logo compraram um sobradinho
e ali construíram uma nova família.
Ela
era feliz nessa bolha de perfeição, mas essa não é a história da minha vida.
Não
é a história de ninguém.
A
história da minha vida às vezes parece que tem mais baixos que altos, coisas
por resolver, complexos que me acompanharam toda a vida.
Não
tive pais que me aplaudiram em apresentações, muito menos que me conhecem bem o
suficiente para saber quais foram as minhas primeiras palavras.
Nunca
tive um cabelo liso e esvoaçante, sempre foi algo deforme que aprendi a cuidar
e a aceitar com o tempo. Corpo rechonchudo que não chamava a atenção de
ninguém, zero namorados até os vinte anos de idade, mas a verdade, é que foi
melhor assim e está sendo épico!
Posso
não ter as melhores amigas do mundo, mas as amigas que cultivei são as melhores
do mundo para mim. É incrível a capacidade que temos de ficar meses sem falar e
logo engajamos em uma conversa que pode durar mais de três horas se quisermos.
Nunca
tive um estilo muito definido, minha família não sabe metade das conquistas que
fiz e não sei se isso os surpreenderia. Estou na UBA estudando psicologia e
tive mil pensamentos passando pela cabeça durante os últimos três anos, coisas
pesadas demais que talvez nunca chegarão à luz.
Essa
é uma parte muito pequena da história da minha vida, porque as pessoas são
compostas por mais que um resumo em uma folha de papel. Estamos cheio de
experiência, altos e baixos, sentimentos, toques, gestos, sorrisos.
Escrevemos nossa história a cada segundo e as dores fazem com que sejamos
pessoas reais. Por isso aquela não é a história da minha vida e não quero que
seja, porque eu aprendi a me amar como sou e sei que isso é mais valioso que
qualquer conto de fadas.