Imagem por Cocoparisienne, sob licença Creative Commons. |
Olhei para trás e senti o peso daquilo que
se escondia entre os ossos das minhas costas, entre cada junta das minhas
vértebras que sustentavam o meu ser. Ajeitei os ombros e o desejei mais uma
vez, como o havia feito nos últimos tempos. Almejei por aquilo que arrancaram,
sem piedade, quando vim parar neste lugar tão inóspito.
O ar rarefeito a minha volta me sufocava,
respirava fundo para dar vida aos pulmões, mas não era o suficiente. Estava
presa entre as barras de ferro imaginárias com um poder real de ferir-me. As
marcas, invisíveis em minha pele, escondiam cada cicatriz do meu sofrimento. Pisquei,
confusa e sem saber onde ir, me encontrei parada diante daquele abismo febril.
Onde estavam as minhas asas?
Aquelas mesmas asas que me permitiam
levantar voo; as asas que garantiam o alcance de todas as minhas metas e
felicidades. Uma a uma, as penas foram arrancadas, cortadas e torturadas sem a
menor piedade por aqueles que eu mais confiei.
Por onde andava a brisa suave que me
ajudava a encontrar o novo amanhecer?
Enganada por uma visão turva da realidade e
pela fantasia de um futuro que nunca existiu. O abismo me desafiava; mas,
diferente da outras vezes, havia uma força dentro de mim, a tão conhecida
covardia que impedia o meu avance por caminhos desconhecidos. O peso fantasma
em minhas costas aumentava ao mesmo ritmo que meu corpo era consumido pelo
fracasso.
Eu não era mais a mesma de quando havia
chegado aqui, a imagem cadavérica das asas suntuosas, que um dia levei, eram um
lembrete constante de uma felicidade passada. Onde exibia, no meu voo, o poder
que tinha dentro do meu corpo a cada olhar que lançava para aqueles que me
rodeavam.
Fechei os olhos e senti a energia que
moldavam as asas ausentes de minha alma, rastros de sua silhueta permaneciam
inseridas em minha mente. Dei um passo atrás do outro, aprendendo novamente a
caminhar com os meus pés.
A terra sobre os meus dedos, o asfalto a
esquentá-los, o abismo.
Respirei fundo, dando o passo final e logo
voava em direção a você de braços abertos, o ar preenchendo-me de vida mais uma
vez.