Às vezes me
pego pensando nessas sensações da infância que já não voltam e se desfazem em borrões
com o tempo.
Saí de uma
casa onde ainda pertencia, deixando para trás memórias, risadas e pessoas que
não estão mais. Desde outro país a imaginava da mesma forma que a havia
deixado, me esquecendo que ela, assim como eu, sempre esteve viva.
A grande
estante da sala já não estava mais, a televisão quadrada trocada por uma de
tela fina, o sofá desgastado finalmente havia sido trocado por outro mais
moderno. Camas que um dia foram habitadas, agora estavam vazias.
Vazio.
Desde
quando sobrava tanto espaço nessa casa quem um dia fora tão cheia de vida e de
pessoas?
Pessoas.
Voltando de
viagem, sempre esperando que fosse a casa, o cheiro, as cores, o bairro que me
trouxessem essa sensação de abraço e de lar, mas hoje vejo que isso somente
desperta as memórias desses momentos compartilhados com as pessoas.
São as
pessoas que trazem essa sensação de lar, que te abraçam e te acolhem como se
você nunca tivesse ido embora. As risadas, fofocas, uma comida compartilhada,
um passeio em um lugar conhecido. Pessoas que conhecem as versões de você,
assim como você conhece as outras versões delas ao longo do tempo. Enquanto tudo
mudou, tudo ainda continua igual.
Somos nós
que carregamos essa sensação de lar no nosso interior e somos capazes de
expandi-lo para quem amamos.
Porque no
fim do dia, voltar para casa às vezes não é sobre o lugar, mas sim sobre as
pessoas.