Algumas verdades sobre Frozen 2 | A história que você não viu

5.1.20




[AVISO ESTE POST TEM MUITOS SPOILERS]

Olá, minha gente maravilhosa! Recentemente eu tive a oportunidade de assistir Frozen 2 e a minha cabeça EXPLODIU, acredito que seja um filme mais maduro que o primeiro e cheio de informações que talvez os pequeninos não percebam, mas os adultos sim.

Ou talvez só sou eu meio louca querendo psicologizar tudo, hehe (sim, vou usar um pouquinho de psicologia para analizar Frozen 1 e 2, então senta nesse banquinho e vamos ler!). 


Bom, pessoalmente sempre achei Frozen um filme meio falho na trama, mas com músicas maravilhosas que grudam na sua cabeça, já Frozen 2 teve o efeito contrário, acredito que a trama foi melhor desenvolvida (talvez poderia explorar mais a fundo algumas coisas), mas as músicas não são tão interessantes quanto as do primeiro filme, acredito que isso possui uma relação com os momentos que vemos os personagens passarem no filme, é óbvio que não faria muito sentido ter músicas chicletes felizes em Frozen 2 (calma que o motivo eu já já explico).

A jornada que os personagens fazem nos dois filmes é bem interessante, porque não seguem os modelos de vilão-mocinho, não temos somente um personagem principal querendo lutar contra o vilão que quer dominar todo o mundo. No primeiro filme é a própria personagem que causa problemas para o lugar onde vive e a irmã vai em busca dela sem nunca aparecer um vilão claro, já que o “vilão” seriam os poderes da Elsa e depois vemos que temos um protótipo de vilão que é o Hans. O que é muito legal, já que o filme quebra muitos moldes já conhecidos. 


Em toda história, seja ela escrita ou que apareça nas telinhas, o personagem deve ter uma motivação, algo que o leve pela história, um desejo que faz com que ele se desenvolva na trama. Eu vejo algo bem fraco em relação a isso em Frozen.

A Elsa só quer fugir e estar sozinha (o que ela consegue logo no início do filme), a Anna quer ir atrás da irmã dela porque é a única família que resta e ela quer ajudar, mas não sabe exatamente o que fazer, ela só vai, se joga, não tem um plano nem nada e também não tem um crescimento em relação à sua jornada, já que depois o seu foco é ir atrás de um ato de  amor verdadeiro. O Kristoff... bom, ele está ali... o que ele quer/deseja, não sei... Talvez ter contato com pessoas além de falar com uma rena? O único que tem um desejo claro, “racional” e que é levado por esse desejo na trama de forma ascendente é, infelizmente, o Hans que manipula todo mundo e no fim ganha o que mereceu.

Jááááá no segundo filme, a coisa é diferente. Todos têm um objetivo claro em mente e esse objetivo move a todos de alguma forma e podemos ver um crescimento em cada um deles (acredito que menos no Kristoff, não pude ver uma grande mudança do início do filme ao final do filme).



Então vem comigo analisar a evolução de algum deles desde o primeiro filme

Elsa


No primeiro filme, a gente vê uma Elsa retraída, cautelosa, receosa e um pouco dura (em relação ao contato com outras pessoas). Ela entende que para que os outros possam estar seguros e felizes, ela deve estar longe, o que é um grande ato altruísta que ao mesmo tempo não é saudável, mas de certa forma, ela abraça essa solidão.

Lembrando que existem sim pessoas mais retraídas que preferem passar tempo sozinhas, mas, nós, seres humanos, somos seres sociáveis que precisamos desse contato com outros para não “enlouquecer”, por mais que a pessoa queira estar sozinha, ela sempre vai ter algum amigo ou familiar em quem confie para passar um tempo ou compartilhar o que sente, é muito importante para o psicológico, passar muito tempo nessa solidão pode levar à diferentes perguntas existenciais do tipo “eu realmente deveria estar aqui? Por que ninguém gosta de mim?” e pode levar à diferentes patologias.

Quando ela finalmente foge, com Let it Go, nós vemos a liberação dela, que ela passa a aceitar os poderes e como ela é, mesmo que seja longe das pessoas, como um alívio. Imagine só, você tendo que se policiar toda a sua vida para não machucar ninguém? Deve ser uma ansiedade constante onde ela se liberou ali.

Isso também acontece muito na vida real, onde muito de nós escondemos uma coisa que gostamos, algo que fazemos, preferência sexual, gênero ou quem realmente somos em essência. Nos policiamos para ser o que esperam que sejamos ou o que querem que sejamos. Há uma pressão enorme sobre as nossas costas e uma vez que aceitamos quem somos, sentimos um alivio com essa liberação e a parti daí, enfrentamos o mundo por ser quem somos.

“Let it go, let it go. Can't hold it back anymore (…). I don't care what they're going to say. Let the storm rage on. The cold never bothered me anyway”


No segundo filme, vemos uma Elsa estável, vive uma vida feliz com a sua irmã e amigos, tem um reino que a aceita, mas ela escuta essa voz que a chama para um lugar desconhecido. No começo ela recusa, mas logo se pergunta se existe alguém como ela e confessa que sente seu poder cada vez mais forte e isso é difícil para ela.

“Are you here to distract me? So I make a big mistake? Or are you someone out there who’s a little bit like me? Who knows deep down I’m not where I meant to be”.

A partir do momento que os elementos afetam a todos do reino, ela decide ir atrás da voz e de respostas sobre o passado. O que é muito importante no seu crescimento pessoal, essa curiosidade de saber se existem outros como ela e ir atrás de um lugar que possui as respostas que ela procura.

Em psicologia evolutiva – adolescência, nós aprendemos a importância da historização na formação da pessoa, é um processo diferente para cada um, mas afeta em quem você está se tornando (projeto identificatório), é um processo de autoconstrução da pessoa (relacionado ao Ego/“yo” se você entende de psicologia). Isso afeta suas ações, personalidade, decisões... basicamente em como você se forma como pessoa. Além disso, a gente pode ver que ela também procura por pessoas como ela, que seria a mesma importância dos grupos que formamos, porque todos sempre nos juntamos com pessoas que nos façam sentir bem e que possuem coisas em comum para poder compartilhar seja o que for. O grupo (quando é certo) fortalece quem somos e destaca certas características.

Vemos a personagem conquistar os elementos e finalmente entender que ela é parte daquilo também, ela passa a aceitar seu lugar e descobrir toda a verdade sobre o passado, conquistando uma verdadeira paz interior.



Podemos observar isso na parte gráfica do filme, onde os produtores sempre costumam brincar. No começo de Frozen 2, vemos tons mais escuros na roupa da Elsa, mas sempre com o símbolo do gelo, diferente de todas as outras pessoas que usam símbolos de Aredelle, já destacando que ela não se encaixa aos demais. Com o passar do filme, a roupa dela vai clareando até chegar na última roupa completamente branca, o cabelo solto (“livre” assim como ela). Além disso, depois de entender o que aconteceu com os pais dela e sentir culpa, ela consegue lidar, de certa forma, bem com a morte dos pais e sente os dois dentro dela, que proporcionaram essa conexão entre o mundo normal e o mundo mágico. Escolhendo o lugar ao qual pertence para viver tranquila.

Outra coisa é que na música “Show yourself”, também podemos ver como uma mensagem/pedido para ela mesma, para que ela mostre todo o seu verdadeiro lado, sem segredos (do passado ou mais atuais), para mostrar a versão totalmente livre dela. Principalmente quando ela fala “are you the one I’ve been looking for all of my life?” (você é o que eu estive procurando toda a minha vida?).


A mensagem em geral que eu vejo na Elsa é de aceitação e de que existe um lugar a qual todos pertencemos, é só uma questão de ir atrás dele e ser forte para "domar" os obstáculos que encontramos no meio desse caminho.

Anna


Ela é uma personagem que todos amam, por ser engraçada, feliz, meio ingênua e que gera uma grande empatia com todos. Mas em Frozen 2 ela mostra atitudes mais sérias e até mesmo preocupantes em relação à irmã.

Em Frozen ela quer viver um sonho de princesa, encontrar o amor da sua vida por acaso e casar-se para viver feliz para sempre. Podemos ver essa diferença com a irmã nos flashbacks de Frozen 2 quando elas estão brincando logo no início do filme quando pequenas, onde Anna diz que no final da brincadeira todos se casam enquanto Elsa afirma que “beijos não salvarão a floresta” e vem uma rainha montada em um cavalo para salvar a todos. Ela é muito sonhadora, mas carrega algo mais pesado dentro dela.


Desde o princípio podemos ver que ela é muito apegada à irmã e separar-se dela foi uma ferida um tanto incurável, já que ela passou anos e anos insistindo em convencê-la a sair daquele quarto, mas sem nenhuma resposta. Algo que magoou muito ela. Também podemos ver que ela se sentia muito solitária no castelo.

“I never see you anymore. Come out the door. It's like you've gone away.”

I think some company is overdue. I've started talking to the pictures on the walls! (…) It gets a little lonely. All these empty rooms just watching the hours tick by”.

Depois que ela descobre que a irmã dela tem poderes e se afasta novamente, ela decide ir atrás dela porque não quer deixa-la sozinha, da mesma forma que ela não quer estar sozinha. Então parte nessa aventura de maneira muito impulsiva, sem planejamento com ajuda de um cara que ela acabou de conhecer e deixa todo o reino na mão de outro cara que ela acabou de conhecer (mas que teve um dueto romântico, love is an open dooooooooooooor, então tudo bem?).

No final do filme, a gente vê como ela está disposta a dar tudo de si para salvar a irmã, porque ela tem duas opções, correr para salvar-se ou salvar a irmã do malvado Hans.



No segundo filme, podemos ver o quanto ela ainda se preocupa com a Elsa, até mesmo no jogo de adivinhação, quando ela diz que vão ganhar porque são irmãs e tudo mais. Quando ela descobre que a Elsa esteve escondendo a voz que escutava, ela lhe dá uma bronca dizendo que deveriam compartilhar tudo, o que pode ser um claro sinal de que ela tem medo de que a irmã se afaste como na infância.

Quando a Elsa decide ir atrás da voz, a Anna frisa que vai com ela não importa o que aconteça, mesmo sem ter poderes. A partir desse momento vemos que o objetivo principal da Anna é proteger a irmã a todo custo de uma maneira quase como obsessiva, como se a Elsa fosse uma criança pequena e indefesa. Essa “superproteção” pode estar relacionada ao fato de que ela tem muito medo de perde-la, já que ela já passou por uma grande perda com os pais e também o trauma de ser sempre afastada pela irmã na infância.

Algo aqui podemos relacionar aos tipos de apego experimentados na infância, a Anna poderia apresentar um apego inseguro, onde, como adulta, ela sente a necessidade de estar todo o tempo com a irmã porque ela pode desaparecer/deixa-la a qualquer momento. Então sempre faz de tudo para estar segura de que a irmã não irá embora e de que esteja bem mesmo se tiver que agir de maneira irracional. Demonstrando um profundo medo ao abandono.

Digo que a proteção da Anna chega a ser irracional, pelo fato dela entrar correndo no fogo para “salvar” a irmã sem ter como salvá-la de verdade. Ela simplesmente entrou ali sem nenhum plano, agiu de maneira impulsiva em um ato desesperado.

Ela está tão preocupada o tempo todo com a Elsa (desde o começo do filme, antes mesmo de saber sobre a voz, podemos ver como ela se preocupa quando a Elsa parece estar distraída no jogo e vai se assegurar que ela não fez nada errado ou que a irmã se sente bem), que ela não consegue nem perceber que o Kristoff estava tentando pedir sua mão em casamento!

Falando de Kristoff, também podemos ver esse comportamento de “medo de ser abandonada”. Quando ele tenta pedir a mão dela pela segunda vez, ele mal começa a falar e ela afirma coisas do tipo “você está dizendo que eu sou louca?”, “então você quer dizer que eu sou a pessoa errada para você?”. Na terceira vez ele diz algo como “sabe, em outras circunstâncias esse seria um lugar bem romântico” e ela responde “em outras circunstâncias tipo com outra pessoa?”.

É como se todo o seu mundo girasse em torno da Elsa e ela não pudesse ver nada além disso, como uma medida desesperada para que nada mude e elas continuem “vivendo felizes para sempre”.



Nós vemos ela ficar brava quando a Elsa decide continuar sozinha e a envia de volta. Naquele momento ela queria estar com a Elsa mesmo sabendo que não tinha poderes para isso e que seria impossível para ela.

Então vemos a Anna passar por um dos momentos mais difíceis no filme, eu até me assustei com o tom pesado da música “Next right thing”, achei pesado até mesmo para estar em um filme de criança.

“This is cold, this is empty, this is numb
The life I knew is over, the lights are out
Hello, darkness, I'm ready to succumb”.

Basicamente aqui ela diz que vai se entregar para a escuridão, que vai se sucumbir a ela e que a vida que conhecia acabou. É nesse momento que ela já passou de tudo o possível, acabou de reviver a morte dos pais, a irmã dela a afastou e logo “morreu” e o Olaf também se foi em consequência disso. Ela se sente completamente sozinha e abandonada, em um estado muito preocupante. O que comprova que as pessoas que aparentam estar mais felizes, também podem ter momentos extremamente difíceis, até mesmo de depressão.

Ela deixa a “escuridão” tomar conta dela, mas logo se reergue pelo dever que tem com Arendelle e com as pessoas que sobraram que também gostam dela, mesmo sabendo que vai ser difícil, ela decide seguir adiante em direção à luz. O que é algo muito lindo, ela tomar essa consciência da sua situação e decidir ser forte e continuar, sem nunca esquecer ou esconder os seus sentimentos.  

“It's too much for me to take
But break it down to this next breath, this next step
This next choice is one that I can make
So I'll walk through this night
Stumbling blindly toward the light
And do the next right thing”.



Então ela finalmente entende o seu lugar, passa a escutar o Kristoff de verdade e toma uma decisão que vai salvar a todos. Uma vez que a Elsa aparece, ela entende o lugar da irmã e que ela não precisa estar grudada nela para garantir a sua segurança. Ela pode realmente seguir adiante e entender que a irmã não a abandonará. Podemos ver isso com claridade, quando ela aceita ser a rainha de Arendelle enquanto sua irmã fica longe dela com os Northuldra.

Como comentei da roupa da Elsa, não poderia deixar de comentar da roupa da Anna que começa em tons claros e logo na aventura vai tomando tons mais escuros, até a caverna quando a maioria da roupa dela tem tonalidades de preto, depois temos a coroação onde ela volta a usar tons de verde como no primeiro filme, um tom um pouco mais escuro, que representa estabilidade e tranquilidade. Como um caminho de inocência à sabedoria.

Acredito que a mensagem da Anna é algo relacionado ao crescimento e aos medos, ela passa a entender que certas coisas são inevitáveis/incontroláveis e ela passa assumir melhores decisões e se preocupar com os outros ao seu redor. Além de superar esses momentos difíceis que passou, que sempre vai haver esperança, algo por aquilo que lutar.

E para terminar, quero falar um pouquinho do Olaf.




Não entendi o motivo dele falar todo o filme sobre crescer e “quando eu for mais velho, vou entender”, até que o meu cérebro fez um click. O primeiro filme atingiu uma faixa etária de crianças que hoje em dia estão entrando ou no meio da adolescência que é uma época de transformação e confusão. O público do filme é o mesmo público do primeiro, porém mais velhos. E o Olaf representa esse crescimento, essa mudança, quer captar esses sentimentos de incerteza e dizer para essas crianças/adolescentes que tudo vai estar bem.

O personagem também apresenta outras emoções no filme, ele é um alivio cômico, mas passa a ganhar profundidade, quando diz que é a primeira vez que experimenta o sentimento de raiva/decepção pela Elsa ter enviado ele embora com a Anna, quando ele está “morrendo” e fala com a Anna sobre amor.

É como se ele estivesse no filme para dizer para as crianças algo como “ei, está tudo bem crescer e eu entendo, estou com você”.  


Agora vocês conseguem entender por que o primeiro filme tem músicas mais alegres e o segundo músicas mais emocionais com um tom mais pesado. É um filme que realmente trabalha muito do emocional dos personagens e tem uma mensagem legal, mas se pararmos para analisar, todos os filmes possuem algo mais profundo se você parar e olhar os detalhes mais profundos.

Para terminar esse post, deixo aqui a versão maravilhosa do Panic at the Disco de “Into the Unknow”.



*Desculpa pelo post gigantesco, mas se eu fosse realmente escrever tudo o que analisei e cada letra de música, isso aqui daria o triplo de páginas hehe. Isso aqui foi um resumão. Espero que tenham gostado! Beijos

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