Imagem sob licença Creative Commons por Nika_Akin

Parada na frente do espelho, passando pela milésima vez aquele batom vermelho tentando entender o que eu estava fazendo e se aquilo valia à pena.

Talvez eu devesse ter escolhido outro... outra tonalidade que não contrastasse tanto com a minha pele e que não chamasse tanta atenção. Existiria algo mais compatível? Quem sabe outro tivesse sido melhor, havia tantos para escolher: matte, acetinado, gloss, cremoso, vinil, cintilante... Cada um com o seu jeito, tamanho e forma.

Mas nenhum parecia ser o certo para mim. Como sempre era algo de idas e vindas, por um tempo e jamais permanente, fácil de trocar de acordo com o momento. Um dia rosa, outro dia vermelho e depois muito tempo sem nada. Desacompanhada, sem tocar nos lábios. E aquela pergunta que rondava a minha cabeça: “Para quê?”.

Uma marca que vai embora, uma tonalidade que já não existe, a qualidade que já não é a mesma... Onde moram aqueles batons de qualidade? Estão destinados somente a uma minoria da população que teve a sorte de encontra-los, por casualidade, em uma loja qualquer?

Já me cansei de remendar batons quebrados ou de usar aqueles desgastados. Cansei de procurar sempre pelo mesmo e encontrar algo tão diferente tentando aproveitá-lo mesmo assim. Já não posso me contentar com qualquer coisa e cada dia está mais difícil de provar um novo quando eu já estava acostumada com outro.

Sacudo a cabeça, sabendo que já não estava pensando em batons. Termino a maquiagem, ajeito a roupa por uma última vez e respiro fundo. Um respiro que carregava mais sentimentos do que eu poderia sequer imaginar. Via no espelho uma mulher que queria o toque e que os lábios fossem borrados com amor, mas geralmente eram borrados só pela paixão de aparências.

Lá estava eu novamente, colocando o meu melhor sorriso no rosto para tentar com um batom novo.