E de repente tudo fez sentido, as noites mal
dormidas, o cansaço, a frustração, o corpo pesado e a mente nublada.
“Não é nada”, médicos diziam.
“É normal”, ginecologista insistia.
“É só fazer dieta e exercício”, nutricionista
afirmava.
“Certeza é tireoides”, alguns comentavam.
“Ah, mas todo mundo da família tem pelos”, um
familiar falava ao dar de ombros.
Enquanto isso minha autoestima ia para o ralo.
Depilação à cera, à linha, veet, gilette, maquininha e à laser. Pinça para
aqueles pequenos fios grossos que apareciam nos lugares mais inoportunos.
Dificuldade para emagrecer por mais que fizesse
dieta e exercício, a barriga sempre saltada. Seria estômago alto? Metabolismo lento?
Espinhas e pele oleosa mesmo depois de superada
a adolescência, dermatologista, cremes e limpeza facial. Rosácea? Sim! Evitar
lugares quentes, comidas quentes e apimentadas, evitar tomar sol e tratamento à
laser.
Cansaço, sono, falta de energia, de ânimo. É
depressão!
Muito pelo em alguns lugares, queda de cabelo.
Menstruação atrasada ou inexistente em alguns meses. O anticoncepcional
resolve, né gineco?
Engordar 20kg, emagrecer 10, engordar 5,
emagrecer 10. Efeito sanfona.
Enxaquecas antes de menstruar… é estresse, com
remédio passa!
Tantos médicos, tantas “soluções”, mas poucos
resultados. Até que um dia tudo explodiu, o comentário da ginecologista e a cara
de desdém ao dizer: “você não tem, porque não vi nenhum cisto nos seus ovários nos exames. Mas assim, é muito comum e normal que mulheres tenham SOP, continua
com o anticoncepcional e pronto”.
Então é normal o cansaço, o desânimo, a
dificuldade para emagrecer, o estresse, a frustração, as espinhas, os pelos, a
queda de cabelo, a menstruação irregular?
É normal ter um sono incontrolável depois de
comer, ao ponto de dormir na aula da faculdade? Ou a falta de concentração
combinada com pensamentos completamente nebulosos? O corpo sempre inchado? Uma vontade louca de comer doce do nada?
Os comentários maldosos na infância e
adolescência sobre as espinhas e o fato de eu ser mais “peluda” que os outros?
É normal eu ter que me esforçar o dobro que as outras na faculdade, porque meu
corpo cansado não aguentava uma rotina entre trabalho e estudo com duas
refeições ou talvez uma refeição por dia?
Onde estiveram todos esses profissionais que
atenderam só um sintoma ao invés de analisar o todo? Por que não pararam para
escutar tudo o que eu tinha para dizer? E o que há dessas ginecologistas que
ignoraram todos os meus pedidos de ajuda?
Endocrinologista.
Foi o único que me escutou e
juntou peças:
- Rosácea;
- Hirsutismo;
- Depressão;
- Cansaço;
- Falta de concentração;
- Dificuldade para emagrecer;
- Gordura abdominal;
- Cortisol alto;
- Quase anêmica;
- Carinha redonda (moonface);
- Quase anêmica;
- Acne;
- Queda de cabelo;
- Enxaqueca e dores de cabeça;
- Menstruação irregular.
Diagnóstico: Síndrome do Ovário Policístico com
resistência à insulina. Prescrição: deixar JÁ o anticoncepcional, fazer várias
refeições por dia, exercício leve, nada de cárdio ou exercícios estressantes,
nada de açúcar ou farinhas, metformina.
E assim me vi menos inchada, mais feliz,
enxaquecas e dor de cabeça nunca mais, redução da queda de cabelo, da rosácea,
do hirsutismo. Passei de ser um gato preto dorminhoco a ser uma golden
retriever procurando gastar energia.
Não é fácil, mas aqui continuo, um pouco mais
consciente e entendedora daquilo que o meu corpo precisa.
Ah! Não se esqueça de beber muita água e evitar
o estresse, por mais que a vida por si só já seja estressante!
Beijos.