As pernas curtas subiam correndo aquele corredor de cimento batido e paredes ásperas, as beiradas do muro protegidos por cacos de vidro de garrafas velhas e o sol recém amanhecido que parecia sorrir para aquela criança de cachos incontroláveis.
Atrás dela vinha sua avó, que ajudou a abrir o portão de casa ao som dos latidos dos cachorros, a rua ainda estava calma pelo horário e elas puderam atravessar tranquilamente. Subiram a rua até chegar na avenida e logo na esquina o cheiro de pão francês do seu Augusto exalava.
A criança saltitou até a padaria e entrou cumprimentando a moça que terminava de colocar os pães fresquinhos no mostrador.
Meia dúzia de pães francês pediu a avó enquanto a criança observava os trabalhadores no fundo da padaria tomando café com leite no copo de vidro e um misto quente feito na hora.
O som da chapa tostando o pão com manteiga e derretendo queijo, além dos copos de vidro pousando sobre as mesas altas de mármore conformavam uma sinfonia única. O cheirinho de manteiga derretida, pão quentinho e café inundavam o lugar.
A avó tomou a mão da criança vendo o quanto estava distraída e foram até o caixa. Ali estava o seu Augusto, um senhor de bigode branco e com um sotaque português quase imperceptível. A avó pagou, mas sem antes do padeiro dar de presente uma bala 7belo, das várias que tinha no mostrador perto do caixa, para a criança. Para adoçar um pouco o dia, ele dizia.
A volta da para casa sempre era assim, uma bala na boca e um abraço quentinho de pães recém-saídos do forno. Um quentinho que aquecia o coração.
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