Foto por Armando Maynez, sob licença Creative Commons. |
Metrô, lindo metrô, que nos transmite a sensação de estar dentro de uma latinha de atum fedida. Que desafia a lei de Newton, comprovando que dois corpos podem ocupar sim o mesmo espaço.
Apesar de tudo isso, eu sempre fui o tipo
de pessoa que preferia andar de metrô do que de ônibus, até que eu conheci a
linha D dos porteños, talvez seja D de demo, diabo ou de desespero; quem sabe
de DEUS ME AJUDA, A CASA CAIU.
Você tem que concordar comigo, o metrô sempre
foi bem mais fácil. Você sabe exatamente onde tem que subir, onde ele vai parar
e nem precisa ficar atento para dar o sinal na hora certa, é só não dormir no
ponto que tá tudo bem; a não ser que seja hora de pico, porque a coisa vira uma
verdadeira selva de cotoveladas, sovacos fedidos e um roça-roça nada agradável
com gente que você nem conhece.
ENFIM
Tudo começou numa uma terça-feira de sol,
dia maravilhoso para ir para a aula de estatística, que está cheia de
argentinas com quem você só conversa porque a abiguinha do ano passado resolveu conversar com elas (desabafei?
Sim, obrigada, agora continue lendo). Desci do meu Chevyzinho (apelido
carinhoso do busão Chevallier) e fui até a estação de Congresso para pegar o
meu metrozinho, entrei sentindo aquele bafo quente do aquecedor que eles deixam
no máximo e fui em direção às catracas. (Sério, qual é o problema desse povo
que bota o aquecedor no máximo na entrada e dentro do trem deixam o
ar-condicionado no máximo?)
Quando cheguei nas catracas, meu bem, eu me
senti a diva das paradas, a toda poderosa, queria gritar um “mãe tô na globo”.
Havia uns repórteres, umas pessoas entregando panfleto, gente tirando foto. Eu
não entendi é BULHUFAS do que estava acontecendo, a única coisa que eu
conseguia escutar era:
— Pasá, pasá
que hoy nadie paga, podés pasar. Es grátis, estamos haciendo una protesta.
Confesso que a única palavra que eu captei
melhor foi grátis, pensei: “epa, hoje é meu dia de sorte. Tá de grátis, vou
poupar um moneyzinho maroto” (HÁ-HÁ-HÁ doce ilusão).
Desci as escadas e tudo belezinha, consegui
chegar bem até a faculdade, só faltavam os passarinhos da Branca de Neve
cantando ao meu redor e dizendo o quanto eu estava radiante nesse dia.
Fiz a socialização com as meninas na aula
de estatística e logo encontrei com a minha amiga de verdade verdadeira na hora
do almoço, ficamos na biblioteca conversando e adiantando nossa leitura, bem
nerds estudiosas que param de ler de cinco em cinco minutos para falar de
qualquer coisa menos de psicologia, e relembrar que meu novo nome é Orneela
(pessoas do Starbucks precisam limpar melhor os ouvidos).
O dia passou suave na nave, ATÉ QUE EU FUI
PARA O METRÔ.
Fiquei diva glamurosa na plataforma,
esperando na linha H (H de harmonia, de hipopótamo sorridente) e nada do trem
vir, passaram três trens do outro lado e nada do meu. E aí a pessoa já começa a
pensar que o metrô quebrou, que eu teria que sair dali e andar até a estação de
ônibus e pegar um Plus que demora o dobro do Chevyzinho, já imaginava meu popô
quadrado de três horas sentada, até que ele aparece! O trem novinho da linha H
que eu tanto amo, só que explodindo de tanta gente que tinha. Se eu entrei? Era
impossível entrar, andei por umas três portas e nada de encontrar um espacinho
livre, isso porque nem sou tão grande... talvez seja um pouco na pança, mas
isso a gente abafa.
Tive que esperar o próximo, mas eu não
estava braba, estava zen, de boas. Sou uma pessoa da paz, gente!
Entrei e fui para a linha D e aí que o
desastre estava feito. (Entendeu? D... Desastre...).
Havia um trem antigo parado, não tinha
ar-condicionado e as pessoas se enfiavam cada vez mais, cada nova pessoa que
aparecia tentava se enfiar ali dentro e eu só conseguia ver as caras bravas
daqueles que estavam dentro e o suor escorrendo pelas suas testas (também as
pizzas no sovaco, mas isso não é uma coisa legal de comentar, porque ninguém
gosta que reparem nas suas pizzas e saiam dizendo para todo mundo).
A porta abriu, fechou, abriu, fechou,
abriu, fechou e abriu de novo. O motorista falava pelo rádio e uma voz que eu
não entendia respondia, uns guardinhas olharam as portas e o próprio motorista
saiu para ver o que estava de errado. Então aconteceu o que eu mais temia, o
motorista avisou que era para todo mundo sair do trem, porque havia um problema
com as portas e que o veículo estaria fora de serviço.
No instante em que ele falou isso, todo
mundo desceu do trem e a plataforma ficou lotada, eu estava encostada contra a
parede, esticando o pescoço como uma girafa para tentar respirar de tão
apertados que estávamos. As pessoas reclamavam, se empurravam e suavam, estavam
todos fulos da vida. E para piorar mais, havia uma mulher de uns vinte e tantos
anos que atiçava o povo falando:
— Isso aqui é tudo fingimento, é tudo
programado. Eles não podem fazer protesto e fazem isso, atrapalham a vida da
gente. É tudo culpa desse governo de “miércoles”. Não tem nenhuma porta
quebrada não, é só porque é horário de pico e eles estão se vingando da gente.
É tudo MENTIRA.
“MA XENTI, QUE COISA”, foi o meu primeiro pensamento quando ouvi a mulher reclamando,
o pior de tudo é que muita gente estava concordando, isso fez com que as
pessoas ficassem mais agitadas e começassem a xingar o motorista. E eu, zen, só
conseguia pensar “MA XENTI QUE HORRÔ, é perigoso andar no metrô lotado de porta
aberta, esse povo tá tudo doido”.
CINCO.
Cinco trens passaram depois desse que
quebrou, eu tentava entrar, mas as pessoas estavam tão irritadas que saíam
empurrando todo mundo e o trem que havia vindo lotado estava quase por
explodir, e eu não tenho lá muita vantagem por ser praticamente anã. Era
cotovelada da li, pisão no pé de lá, empurra-empurra de cá.
E nesse desespero todo, as portas eram
fechadas, deixando pedaços de roupas penduradas por fora. Uma verdadeira selva
urbana.
Pela primeira vez eu senti horror ao ver as
pessoas ali esmagadas e empurrando umas às outras, talvez fosse pelo fato de eu
sempre ter visto os porteños agindo de maneira educada naquelas situações de
aperto, literalmente aperto! Sempre pediam “perdón”, “permiso” ou ajudavam os
outros a se esmagarem junto com eles, mas dessa vez eu via fogo saindo dos
olhos de todo mundo, aquele clima de ódio, o calor da raiva. Se alguém
começasse uma briga, tenho certeza que todos se juntariam para bater em alguém.
Enfim, depois de um milagre, eu consegui me
enfiar em um cantinho apertado com a ajuda de uma moça que era mais baixinha
que eu (juro, a cabeça dela pegava no meu queixo e eu tenho 1,54 de altura), e
quase uma hora depois, eu havia chegado até o ponto do Chevallier e consegui
pegar o búzios tranquilamente, aproveitei as minhas duas horas de viagem para
puxar o meu ronco.
No dia seguinte foi pior.
“E PODE SER PIOR?”, você me pergunta, mas é
claro! PORQUE A VIDA TEM DESSAS COISAS.
Entrei na linha D e nada de entrar de graça
e muito menos gente tirando foto e gravando (nada de um “mami estoy en TN”). Aliás, a maioria das catracas
estavam fechadas e tive que ir do outro lado para entrar no metrô. Filas e mais
filas de pessoa haviam se acumulado, consegui chegar até a plataforma e lá
estavam os trens abertos esperando para que as pessoas entrassem.
Fiquei de pé do lado que desceria, os
porteños estavam educados como sempre, davam lugar para idosos e mães com
crianças de colo. Tudo estava QUASE perfeito, porque a cada estação que
passávamos a porta abria e fechava duas ou três vezes, pensei que era pela
quantidade de gente, sempre tem um ou outro que esquece um braço ou uma perna
para fora. E então um pensamento passou pela minha cabeça:
E SE ESSE FOR O MESMO TREM DE ONTEM QUE
TAVA COM DEFEITO NA PORTA?
Dito e feito. O motorista parou na estação
Bulnes e saiu para ver a porta, logo, avisou a todos que o veículo estava fora
de serviço e todos desceram deixando a plataforma lotada. Diferente de ontem,
não vi caras bravas e nem teorias da conspiração dos motoristas de metrô
(imagina só, uma seita de motoristas. Illumetronatis... ok, admito, essa
piadinha foi infeliz).
Os porteños tiraram seus celulares, e no
meio daquele empurra-empurra, tiravam fotos e mais fotos, outros gravavam, tipo
reporters mirins. Era um mar de iphones e samsungs, e lá estava eu, novamente
contra uma parede quase esmagando a uma mulher atrás de mim.
QUATRO.
Quatro trens passaram e o ânimo das pessoas
já não era mais o mesmo. Vi a transformação de médico para monstro, de cisney
para patinho feio, de menininha de Operação Cupido para Lindsay Lohan. As
pessoas se enfiavam nos trens dando cotoveladas e empurrando a todos, pisavam
nos pés, davam cabeçadas, as pessoas de dentro avisavam que não entrava mais
ninguém, mas as pessoas da minha plataforma não se convenciam disso e
empurravam mais e mais. Vinte minutos haviam passado desde que eu estava ali,
até que uma luz acendeu na minha cabeça.
As estações de metrô da Argentina são
pertinhas umas das outras. BUUUM, MINHA CABEÇA EXLODIU.
Na hora parecia loucura, eu não fazia ideia
de onde estava e nem se a minha teoria era completamente verdade. Abri o
celular e procurei no google maps para que direção que tinha que ir, ali falou
que eu demoraria uns vinte minutos, ok né, já estava atrasada mesmo, que mal
faria? Liguei para mami avisando o que havia acontecido e que se eu morresse no
meio do caminho, meu corpo estaria aí entre Bulnes e Pueyrredón, falei que
ligaria para ela quando chegasse para avisar que sobreviví.
Saí dali, olhando uma última vez para todas
aquelas pessoas irritadas que esperavam uma chance de entrar, e comecei a
procurar pelos meus pontos de referência na rua. Logo de cara encontrei o
primeiro e sabia para onde ir. (Bem Dora Aventureira... Ayumi, Ayumi, Ayumi
aventureeeeeiraaaaa).
TRÊS.
Três minutos passaram e eu já conseguia ver
a plaquinha de Agüero, eu queria rir, queria gargalhar na minha própria cara,
mas me contive, ninguém precisa saber que falta um parafuso na minha cabeça.
MUHAHAHAHAHA VOU DOMINAR O MUNDO E NINGUÉM SABE.
CINCO.
Cinco minutos haviam passado e eu já estava
em Agüero. Eu tinha um sorriso no rosto, aquele sorriso irritado que você dá
quando a vida resolve cagar na sua cara e dar um tchauzinho, enquanto a solução
está na sua cara e você só consegue olhar para o outro lado e sentir o fedor
das coisas.
Eu ria por dentro, ria porque a estúpida
aqui não tinha pensado nisso antes, porque as estações daqui são RIDÍCULAS.
Porque você pode ir caminhando de uma até outra tranquilamente e muitas vezes
pode ser mais rápido do que pegar o próprio metrô que está lotado. Ria porque
vi muitas pessoas irritadas no metrô quando elas poderiam ir caminhando ou até
mesmo ter pegado um ônibus, mas não sou eu quem faz a escolha delas.
QUINZE.
Em quinze fucking minutos eu estava em
Pueyrredón. QUINZE MINUTOS DE CAMINHADA NÃO É NADA SEEEENHOR. E eu continuava
rindo, porque a trouxa aqui havia esperado mais de vinte minutos para ver se
conseguia entrar no trem e nesse tempo eu já poderia estar pertinho da
faculdade.
Liguei para mami e a conversa foi mais ou
menos assim:
— Já cheguei.
— Mas já?! Como assim?
— Já estou dentro do metrô, na plataforma.
As estações daqui são ridículas de perto, e eu lá na outra estação igual a uma
trouxa esperando. QUINZE MINUTOS, demorei só quinze minutos, isso não é nada e
o google falou que eu demoraria vinte minutos, que nada. — Falava no celular mesmo,
sem importar se os outros estavam olhando para mim, porque eu falava em
português
— É, realmente, nada a ver com São Paulo. —
Ela falou com um tom impressionado. — Da próxima vez você já sabe, nem esquenta
a cabeça e vai andando.
E eu ria. Ria de nervoso por não ter tido a
ideia antes, ria de alegria por não ter que entrar na lata de sardinha, ria
porque ninguém pensava da mesma forma que eu a não ser a minha mãe. Porque
andar de uma estação para a outra era quase morrer para os argentinos que eu
conhecia. Andar de uma estação a outra os impressionava, e eu nunca entendi
isso, era um pouco mais de cinco minutos entre cada uma, só isso. Será que eu
era a louca dessa história? Talvez... (MAS OS LOUCOS SE DIVERTEM MAIS XUXU,
ENTÃO VAMOS SEGUIR COM A PARTY).
Cheguei mega atrasada na faculdade e quando
abri a porta para entrar na sala, dou de cara com uma das meninas de
estatística. Nós nunca havíamos falado uma com a outra fora da aula de
estatística, sabíamos que estávamos na mesma turma de psicanálise, mas ela
passava reto, nunca me cumprimentava, então eu não fazia questão mesmo. Mas ela
estava ali, na minha frente.
— Hola. — Fiz o melhor sorriso que pude.
— Hola, no hay
lugar. Tenés que buscar una silla por ahí.
ÓTIMO. Estou bem coleguinha e você? Ah,
brigada, eu também estou bem.
Fechei a porta e lá fui eu, andei pelos
corredores da faculdade procurando uma cadeira e eu não fui nada tonta não,
peguei logo uma cadeira com mesa junto (porque na UBA 80% das cadeiras estão
quebradas e não há rastro das mesas que um dia estavam grudadas nelas). Voltei
para a sala e fiquei ali, quase para fora, tive que deixar a porta aberta
porque eu não entraria ali.
Peguei o bonde andando na aula e logo
entendi sobre o que a professora estava falando. E a colega estava meio
perdida, ficava olhando no meu caderno para ver o que eu estava anotando.
NÃO OLHA NA MINHA CARA, MAS FICA QUERENDO
VER MINHAS ANOTAÇÕES, AAAAAAAAH VÁ PARA ONDE O SOL NÃO BATE, MON AMOUR.
Depois disso o dia foi normal, almocei, fui
para a aula de social com os meus amiguinhos mega legais, os argentinos mais
legais que já conheci na faculdade e depois fui para casa com medo do metrô
pifar novamente, mas ele não pifou, estava tudo normal e eu pude chegar em casa
sem problemas.
ATÉ QUE O DIA SEGUINTE FOI UM POUQUINHO
PIOR.
O dia estava lindo, almoçaria com a
amiguinha e depois me encontraria com o povo divertido de psico social para
falar do trabalho de campo. Consegui chegar viva na faculdade e o dia foi bom.
Com o povo de social, sentamos logo na primeira fileira (com cadeiras que
tinham mesa) e passávamos bolachinha para lá, suquinho para cá, chocolatinho
para lá, era praticamente um piquenique.
Falamos do trabalho e tudo belezinha, o dia
estava maravilhoso. ATÉ QUE EU FUI PARA O METRÔ.
A linha H estava linda como sempre, mas a D
estava um caos, um monte de gente ali, plataformas cheias, músicos ignorados e
calor sufocante. Basicamente, a linha D é um gostinho do inferno, Satanás deve
vir passar férias por ali para se sentir em casa, surfa em cima do metrô e
ainda ri da gente.
O motorista estava conversando com várias
vozes diferentes pelo rádio e eu não entendia nenhuma, um telefone antigo
(esses que você gira os números) começou a tocar e ele saiu para atender. As
pessoas da plataforma só observavam, até que ele avisou a todos que havia um
problema técnico na estação Bulnes e que o percurso da linha D andaria só de
Scalabrini Ortiz até o Congresso.
Sabe quando a vida te dá um tapa na cara?
ERA ASSIM QUE EU ME SENTIA.
SÓ PODIA SER SACANAGEM, já era a terceira
vez naquela semana, será que eles não deixam marcado qual trem tá zoado? É por
isso que o povo daqui é tudo paranoico, acreditam na teoria da conspiração dos
motoristas de metrô, sempre acontece a mesma coisa.
E o povo ficou brabo. Todos reclamavam e
xingavam o motorista, alguns ficaram ali mesmo, dentro do metrô à espera de um
milagre. XENTI, FICAR NERVOSO FAZ MAL PRA CUTIS E PARA O CORAÇÃO, precisamos de
mais amor no mundo xuxus, tudo tem solução se a gente tirar o popô da cadeira e
se mexer.
E foi isso que eu fiz, mexi o popô e saí do
metrô junto com uma boa parte das pessoas, já sabia que teria que andar umas
quatro estações e eu não via nenhum problema nisso, demoraria uns vinte minutos
mais ou menos, e vinte minutos era o tempo que eu demorava para ir até a minha
escola quando estava no Brasil, mas o melhor de tudo é que na Argentina não tem
caminho de cobra (não, não estou falando das meninas de estatística), aqui não
tem subida, nem descida, então você só vai, meu bem.
Fui até a saída do metrô para olhar os
pontos de referência no google maps enquanto escutava uma enxurrada de gente
gritando com a moça que carrega a SUBE (bilhete único argentino), o povo
perguntava quando o problema seria resolvido, se podiam pegar conexões em outro
metrô, perguntavam onde ficavam as estações de ônibus e principalmente xingavam
ela dizendo que esse tipo de problema era tudo combinado.
QUE HORRÔ.
Fiquei com dó da moça, estava sendo atacada
por passageiros agressivos. Ainda bem que ela estava dentro daquela casinha, se
não o povo iria pular para cima dela.
Depois de todo esse perrengue, eu concluí
que a vida queria que eu andasse e sabe de uma coisa? Eu não me importava.
Não fiquei estressada como os outros, não
queria estrangular o motorista até os olhinhos dele fazerem “pop”, não queria
gritar com a moça da recarga, não queria sair dando cotoveladas nos outros. Eu
não estava preocupada, porque havia coisas muito piores e estressantes que um
metrô que não funciona, havia mil soluções para esse problema: andar, chamar um
táxi, um uber, pegar um ônibus, esperar uma carona divina do além, fazer uma
fila de conga e dançar até a próxima estação...
Eu andei. E sabe de uma coisa? Foi lindo.
Eu vi a Cidade de Buenos Aires de noite, ao
meu ritmo. Vi as lojas iluminadas, pessoas andando e conversando pela rua,
escutei as várias línguas dos estrangeiros, ouvi a conversa de um casal
britânico, vi crianças saltitando pelas ruas, pais com bebês no carrinho, gente
rindo, gente sorrindo, adolescentes apaixonados, brasileiros gargalhando e
falando alto. E só de ouvir aquele português, aaah, o meu coração deu uma
aquecida. Não importava se a minha mochila estava pesada, se o metrô estava de
sacanagem com a minha cara, se minhas pernas doeriam no dia seguinte. Eu estava
no meio de gente, estava no meio da vida em si. Eu precisava daquilo, de ouvir
mais e sentir mais. Estava com um sorriso no rosto e nem sabia direito o
motivo.
ATÉ QUE EU CHEGUEI NA PARADA DE ÔNIBUS DO
CHEVALLIER.
Mano do céu, a vida estava mesmo de zoeira
com a minha cara, não é possível. Ela quer que eu vá andando até o fim do mundo?
(Que é onde eu moro). É um tapa atrás de tapa.
VIDA, O QUE VOCÊ QUER DE MIM, SUA
DESGRAÇADA?!
Cheguei no ponto do Chevyzinho e a rua
estava interditada, você tem noção? A RUA DE ONDE VINHA O MEU CHEVYZINHO ESTAVA
INTERDITADA, não passava nem uma mosca ali. As filas de todos os ônibus estavam
misturadas, saí perguntando para todo mundo e, aparentemente, as quatro filas
que se formaram iriam para Moreno (nem sei onde fica essa joça).
Encontrei uma mulher que também ia para o
mesmo lugar que eu, mas ela meio que me ignorou e estava desesperada indo de um
lado para o outro como uma barata tonta de pernas finas e cabelo loiro. Então
eu parei para pensar, eu não faria escândalo por isso, tudo tem um jeito, vamos
usar o cerébinho que mami e papai me deram, os neurônios já estão meio queimados,
mas para algo devem servir, né? NÉ?
METROBUS, moleeeeeeeque! Hááááá, toma essa
vida, não é hoje que você vai me vencer, sua recalcada!
Tinha um metrobus onde o Chevyzinho parava
e olha só, não ficava nem a cinco minutos dali. Avisei para a mulher, com quem
eu tinha falado antes, que havia um ponto ali perto, mas ela praticamente me
ignorou e sumiu no mar de gente que ia para Moreno. Fui até o outro ponto e
esperei na fila, sentindo aquele alívio de que estava tudo bem. Então a mulher
que estava comigo aparece do nada.
— Llegaste más
rápido que yo — falou impressionada.
— Sí — respondi pensando um “é moça, eu
falei para você que tinha um ponto, mas você preferiu ir perguntar para outras
pessoas. Eu sei que eu tenho cara de uma criança de dez anos de idade, mas não
precisa duvidar da minha palavra”.
Mas foi isso que aconteceu, subi no ônibus
e fui para casa depois dessa semana horrorosa com a linha D. Fala sério, o
metrô estava atiçado nessa semana, mas tá tudo bem, o que importa é que eu
cheguei viva e não fiquei presa dentro de um trem debaixo da terra. Eu andei
bastante também, se as batatas da perna estão doendo? Sim, mas isso significa
que os músculos estão trabalhando e terei perninhas torneadas algum dia (eu
sei, mega iludida, né?).
E você? Já passou por poucas e boas no
metrô, seja ele porteño ou brasileiro? Conta aqui para tia! Ai credo, tia
não... Conta para mim mesmo!
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