Formatura, doce formatura de nono ano. Para as meninas é
o momento de sair caçando vestidos lindos e maravilhosos que as façam sentir
como princesas. Para os meninos é só mais um evento chato, o qual eles devem usar roupas formais que os deixam praticamente imobilizados.
Mas não estou aqui para falar sobre como foi a minha
formatura, pelo contrário, estou aqui para falar sobre um assunto um pouco mais
pesado, principalmente quando nos referimos à adolescência que é uma fase bem
complexa e cheia de mudanças.
Para entender melhor, vamos começar do começo!
Desde pequenos estamos em contato com a mídia e somos expostos
a tudo aquilo que ela propõe (impõe). Somos extremamente influenciados
por ela, desde a forma que vivemos, nos vestimos, o que devemos escutar é até
como o nosso corpo deve ser.
A própria sociedade nos obriga a seguir um padrão de
beleza, sofremos uma completa lavagem cerebral sem ao menos perceber, essa
imposição está presente em todos os meios de comunicação, seja em revistas,
programas de televisão, comerciais, redes sociais e até brinquedos. E de certa
forma, queremos ser parte disso para não sermos rejeitados e excluídos
socialmente, queremos mudar nosso corpo para nos sentirmos "atraentes"
para OUTRAS pessoas.
Crescemos com esses estereótipos e nos tornamos
inseguros com a nossa própria imagem, temos receio de receber olhares tortos na
rua, temos medo de que outras pessoas estejam falando mal de nós. Queremos
fazer parte desse mundo de pessoas altas, esbeltas, pernas e braços torneados
(mas não muito), sem nenhum rastro de estrias, celulites ou cicatrizes.
Somos julgados SIM por nossa aparência, e muitas vezes
nem a podemos controlar. Crianças, adolescentes, adultos... todos nós crescemos
e criamos uma imagem distorcida diante do espelho. Nunca estamos satisfeitos.
E essa insatisfação pode chegar ao extremo. Sujeitamos
nossos corpos a passar por dietas malucas, cirurgias e métodos alternativos,
podendo chegar até casos de bulimia, anorexia, depressão e fobia social.
E esse tipo de preocupação física afeta a todos,
inclusive as crianças. Elas sonham em ser adultas, querem ser magras e altas, usar
salto alto, colocar maquiagem e fazer progressiva, elas se preocupam com sua
aparência numa fase de formação, onde elas ainda estão tentando descobrir quem
são de verdade. Se questionam porque não são como as modelos ou porquê possuem
traços diferentes, desejam ser “normais” como os outros ao seu redor.
Qual é o problema em ser diferente? Qual é o problema
em ter umas gordurinhas ou dobrinhas à mais? O que há de errado em ter estrias
e celulites? Nós somos todos diferentes, únicos, e é isso o que nos torna
seres-humanos. Somos especiais, cada um à sua maneira.
Devemos aprender a abrir nossos olhos. Estamos
cercados de pessoas diferentes, de pessoas que gostam de nós como somos. A
aceitação é um caminho complicado, cheio de olhares reprovadores e obstáculos, mas
aprender a estar bem consigo mesmo é o primeiro passo para encontrar a
felicidade que nós buscamos.
E finalmente, a história por trás desse vestido.
A partir dos oito anos eu comecei a engordar, eu não me
importava em ser gordinha, na verdade, comecei a notar que era “gorda” quando
os comentários maldosos surgiram. A partir desse momento, soube que meu corpo
estava errado e que eu não deveria ter a barriga que tinha.
Cheguei aos quatorze anos (idade que eu tinha na minha
formatura) sem conseguir emagrecer. Eu tinha, e continuo tendo, a completa
noção de que não sou magra. Naquela época isso me incomodava um pouco, mas eu
já estava começando a entrar numa fase de aceitação, começando pelo meu cabelo.
Nessa época, eu estava super animada para ir atrás de
um vestido, então eu e a minha amiga fomos atrás de um no shopping. Entramos na
loja e uma mulher nos atendeu, ela olhou sorrindo para a minha amiga e me mediu
com os olhos. A funcionária a atendeu bem, como se estivesse banhada a ouro, e
mal olhava para a minha cara.
Minha amiga pediu um vestido e ela
começou a entregar vários. Outra moça veio me atender, pedi o vestido tamanho M
e ela perguntou se eu tinha certeza de que queria o M ou um tamanho maior, chegou
a me oferecer o G, e eu pedi o M novamente (até porque eu uso tamanho M!). Entrei
no provador e fui colocar o vestido, como vocês sabem, eles são difíceis de
fechar, procurei a mulher e ela havia me abandonado no provador e foi ajudar a
minha amiga.
Duas atendentes ajudando a minha amiga a provar um
vestido. Eu consegui fechar o zíper sozinha, mas o vestido não caiu bem. Me
destroquei e saí do provador, a mulher parecia estar me olhando torto, eu disse
que não havia gostado do vestido e ela nem perguntou se eu queria ver outro,
simplesmente foi guarda-lo, começaram a dar atenção para minha amiga, dizendo
que não sei qual vestido cairia bem nela, mostraram várias opções. As mulheres
a elogiavam dizendo como o vestido ficava bem nela porque ela era magrinha,
porque tinha um corpo adequado; eu estava ali olhando tudo isso e achando
ridículo o comportamento das atendentes.
Saímos da loja com opiniões bem diferentes sobre o
atendimento, decidi que nunca mais voltaria nesse lugar, fui em outro shopping
e achei o vestido perfeito (esse da foto). As mulheres desse outro lugar me
atenderam super bem independente do meu peso, tamanho e etnia.
Tenho o orgulho de dizer que eu não faço
parte do padrão e nem vou me matar para ser parte dele. Sou uma gordinha feliz!
Gosto de comer lasanha mesmo! Churrasco, salada de tomate, pão integral,
frutas, pizza e sorvete! Faço atividades físicas e sou tão capaz quanto
qualquer outra pessoa! Não tenho vergonha de sair dançando e de mexer esse
corpitcho que é só meu.
Busque aquilo que te faz feliz. Coloque-se em primeiro
lugar sempre e siga suas próprias regras de beleza, não a dos outros. O corpo é
seu, a vida é sua e só você tem direito sobre ela.
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