Entre Serpentinas e Confetes

10.7.17

Foi em um carnaval que eu te reencontrei. Eu já não era mais a mesma e tampouco você, mas sabia que nós dois lembrávamos da sensação do antes. Aquela sensação familiar que nós buscávamos nos outros, mas agora não adiantaria, não poderíamos viver como no passado se já não tínhamos a mesma essência.

Ao encarar-te não soube exatamente o que fazer. Você ainda não havia notado a minha presença, ruborizei só de imaginar a cena, você me notando no meio de tantas pessoas ao seu redor.

Havia um mar de corpos dançantes que nos separava, e eu não era uma pessoa chamativa entre tantas caracterizadas. Ali estava eu, sem fantasia, somente sendo eu mesma, sem chamar a atenção.

De repente você jogou os confetes para o alto e decidiu acompanhar sua caída ao solo, logo, como imãs, seus olhos encontraram os meus.

Sua primeira expressão foi de espanto, os olhos arregalados e a boca entreaberta não mentiam. Minhas pernas fraquejaram, parecia ter um formigueiro inteiro dentro do meu corpo. "Ele virá ou não?", eu me perguntava analisando as possibilidades para sair correndo sem morrer esmagada ou pisoteada.

Ainda hipnotizada por seus olhos, você sorriu fazendo com que as formigas fossem embora e só me restasse aquele sentimento de vazio, uma saudade extrema como um pedaço meu roubado.

O que eu supostamente deveria fazer? Retribuir o sorriso? Um aceno de cabeça? Ir embora sem olhar para trás?

Sorri, mas não exatamente porque queria. Você me contagiou, da mesma forma que sempre havia feito, era capaz de mudar o meu humor com simples gestos e toques.

Você virou-se para falar com os amigos e eu aproveitei para fingir que nada havia acontecido. Continuei dançando de costas, assim não me martirizaria por um amor de um passado recente. Minha cabeça estava pesada, por fora eu estava leve e dançava como as plumas nas cabeças das passistas, porém, um grande elefante imaginário havia sentado sobre mim. 

Sem ao menos notar sua aproximação, você me abraçou por trás. Senti seu corpo encaixar perfeitamente ao meu e o calor humano que emanava dele me reconfortava, eu me sentia finalmente em casa. 

Estanquei no lugar me perguntando "por que sou tão autodestrutiva?", "acabou, não acabou?", "será que ele está bêbado?". Então ouvi sua voz ao pé do meu ouvido:

— Eu ainda te amo — meu corpo gelou por inteiro, o elefante tentou levantar-se, mas acabou caindo em cima de mim me machucando internamente.

Suas mãos macias me envolveram e uma parte do meu ser queria ficar, mas era errado e eu sabia disso. Precisava fugir de você, amava quem você era no passado e não posso me iludir com a miragem de algo que um dia você já foi.

De repente uma luz acendeu em minha mente. Eu precisava quebrar essa corrente invisível que nos ligava e espantar esse elefante imaginário. Em meio a serpentinas e confetes, eu o vi, o meu futuro. Desatei-me das amarras do passado e me afastei de você caminhando até ele. Sorri tímida e ele não sabia ao certo o que fazer, parecia não pertencer àquele mundo e tampouco eu. Tomei uma atitude e me aproximei, nossos narizes roçaram. Segundos depois ele me puxou e nós estávamos nos beijando. Eu já não era mais prisioneira e poderia seguir em frente.



O elefante correu para longe e as amarras se dissolveram. Agora eu era finalmente livre.

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