Quando você me disse “te amo” pela primeira vez...

18.12.22

 

Imagem sob licença Creative Commons por gere

Foi inesperado, em uma situação até propícia, mas não era o momento certo. E sabe como eu soube disso?


Porque não sentia borboletas na barriga ao olhar para você.


Não tinha vontade de passar os meus dias ao seu lado.


E também senti que precisava estar sozinha, um respiro, porque me senti sufocada.


Olhei em seus olhos apaixonados e só pude sentir o desespero no meu peito, respiração acelerada... Não seria um ataque de pânico? Não, era só o desespero de algo que eu sabia que não funcionaria sem antes mesmo de começar.


Eu queria fugir dali, da mesma maneira que eu havia feito com outros caras que se declararam em um momento em que sabia que não sentia o mesmo. Me afastar completamente dessa incomodidade.


Aqui estava eu nessa mesma situação, em seus braços, um olhar tão penetrante como se quisesse admirar até os meus ossos, mas sem nunca realmente ver quem eu era.


Havia dois grandes problemas, o primeiro: eu não te amava, o segundo: você amava uma versão ilusória de mim, como todos os outros fizeram e acabaram me abandonando.


Uma ideia fictícia que criou em sua mente a partir das minhas conquistas. Você ama a mulher forte e decidida que conheceu nesses poucos meses, você ama a determinação de uma pessoa que continuou fazendo o que ama depois da reprovação da família, você ama a mulher que compartilha pensamentos profundos sobre a vida, você ama a maneira que eu sou capaz de fazer de tudo um pouco. Você ama a arte, como eu me visto para os encontros e o jeito que parece que eu já tenho toda a vida resolvida.


Mas é só isso, uma ilusão, porque ninguém é perfeito e essa perfeição a qual ele estava dizendo “te amo”, era só uma fração pequena da minha vida.


Nos poucos segundos que durou aquela frase, eu sabia que ele não me amava. Porque eu nunca conseguiria ser ela 100% da minha vida.


Porque por trás da mulher forte e decidida existem dias de crises existenciais, dúvidas e carência de uma garota que sempre teve que resolver tudo sozinha.


Porque por trás de toda aquela determinação existe o medo, a insegurança e um rancor por ter que ir contra pessoas que ama para realizar um sonho.


Porque por trás de toda conversa filosófica, às vezes os conselhos parecem ser mais para mim que qualquer outra pessoa.


Porque por trás da mulher multitasking, se esconde uma mulher exausta. Exausta de sempre ter que lidar com tudo e fazer tudo dar certo, sempre procurando ser e fazer o melhor, porque menos que isso não está bem para o meu estândar. As melhores notas, a melhor funcionária, um vídeo editado até ficar perfeito, como mínimo uma publicação de livro por ano, trabalhos secundários com uma atenção ao cliente perfeita, a professora divertida, as saídas com os amigos... Exaustão.


Essa mesma mulher que te conta curiosidades sobre o mundo é a mesma que às vezes chora de frustração pelas noites. É a que às vezes não tem vontade de se arrumar para sair ou que vai estar com roupas velhas em casa. É a que enfrenta bloqueios criativos ou simplesmente está desanimada para escrever e prefere ficar deitada na cama olhando alguns vídeos. É a mesma que, assim como qualquer outro, tem inseguranças, medos, alguns dias de preguiça, de procrastinação, que fica irritada ou que só quer receber um abraço para sentir que tudo vai ficar bem.


E é dessa fragilidade da qual eles têm medo, o pensamento de “eu não me apaixonei por isso”. A questão é que todos somos frágeis, todos estamos quebrados de alguma forma e ninguém é perfeito. A paixão por essa falsa percepção de ilusão é só a entrada, o difícil mesmo é aprender a amar com todos os perfeitos e desperfeitos, porque somos um pacote completo e não somente a parte boa de cada um. E quando eles percebem que não podem amar algo tão quebrado quanto eles, é quando eles decidem ir, por isso eu fujo daqueles que dizem “te amo” antes da hora, porque talvez a decepção deles seja maior que a minha.


Então, eu sei que você não me ama, porque você ainda não conheceu a parte quebrada que existe dentro de mim. Você ainda não me viu chorar, não me viu ter medo, estar insegura ou simplesmente abaixar a cabeça para comentários da minha família.


Ah não, você só se apaixonou por essa fração que quis ver de mim, mas o amor... amor esse que ainda é muito cedo para existir entre a gente. Ele vai vir devagar, de surpresa e com o tempo. E tenho certeza que não vai ser com você.


Ah, o amor de verdade vai ser muito mais que desejo ou uma ilusão, porque é conseguir aceitar um ao outro como inteiro e realmente ver quem é o outro. Até isso acontecer, não sei quantos “te amos” terei que escutar, mas sei que eu me amo e isso é o primeiro e mais importante para mim.


Então, ali entre os seus braços, dei um meio sorriso e não fui capaz de responder, porque se tem uma coisa que eu não faço é mentir sobre os meus sentimentos quando se trata de amor. Você só sorriu, talvez um pouco decepcionado pela falta de resposta, mas continuou ali esperançoso que algum dia pudéssemos ser mais que duas pessoas em um encontro, porque eu era a "garota dos seus sonhos".


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