Todo primeiro dia de aula causa uma sensação na gente, alguns querem ir logo para a escola matar saudade dos amigos e outros desejam dar um restart nas férias. Eu poderia falar de qualquer primeiro dia, o do oitavo ano, o do terceiro, o do nono. Mas acho que o ano mais difícil de mudar foi o do sexto.
E sabe o motivo?
No sexto ano é aquela
transição de Fund. I para Fund. II. Você sai do topo, do Nirvana, da sala mais
velha do período; as criancinhas do primeiro ano acham as do quinto o máximo, é
quase como se você sentisse que mandasse na escola e aí PUFF. Você tem que ir
para o sexto ano e voltar a ser a menor sala do período, e os alunos mais
velhos não são só quatro anos mais velhos que você, eles vão ter até barba!
Então você vai ter medo de mostrar a sua criancinha interior no meio de gente
tão grande.
Sem falar que é tipo uma
passagem de infância para pré-adolescência, que é quando você não é nem criança
e nem adolescente, e a sua cabeça fica confusa (quase vira um pudim). Você não
tem certeza se pode gostar de Barbie e maquiagem ao mesmo tempo. Ainda gosta do
lanche da sua mãe, mas é mais daora
comprar na cantina, etcetera, etcetera...
Também tem o julgamento
dos coleguinhas que sempre querem mostrar o quanto são crescidinhos e adultos. A gente é trouxa mesmo, acha que ser adulto é bom, que nada! Falo por
experiência própria, mas isso é história para outro livro. Sei que falar “aproveite
ao máximo sua infância” ou “não tenha pressa em crescer”, não vai adiantar
nada, você vai querer ser “grande” de qualquer jeito e vai quebrar a cara como
todos nós quando tiver os seus 20 anos. Lei básica da vida.
Mas vamos ao que
interessa...
Meu primeiro dia de aula
no sexto ano até que começou bem. Levantei da cama toda desesperada, iria
estrear a minha mais nova mochila e estava enfiando todos os meus cadernos
apressada (coisa que eu deveria ter feito no dia anterior, mas quem liga?). Eu
estava alucinada pela ideia de finalmente usar mochila de gente grande (adeus
mala de rodinhas e olá dor nas costas até o terceiro ano!).
Depois de colocar o
uniforme e de me tornar uma tartaruga ambulante com a mochila nas costas, tive
uma pequena conversa desagradável com a minha mãe sobre a lancheira. Fala
sério, ela queria que eu levasse a minha lancheira COR DE ROSA DAS MENINAS
SUPER PODEROSAS! Olha o mico! Eu tive que falar para ela que levaria o pote com
pão e o suco de caixinha na parte da frente da mochila, lancheira era uma coisa
tão ultrapassada para alguém que estava no sexto ano. No fim, consegui
convencê-la e fomos para a escola de carro.
Eu sentia minhas mãos
congelarem e pernas tremerem, estava tão ansiosa para finalmente estar no meio
dos “grandes”, eu me sentia grande (mesmo sendo uma pigmeia). Minha mãe me
encarava sorridente, toda orgulhosa da filhinha crescida, e eu queria descer
logo do carro e encontrar os meus amigos.
Eu havia combinado de
esperar por eles na porta da escola, assim entraríamos juntos e não nos
perderíamos no meio de tanta gente nova. Vou apresentar os meus amigos para
você, já aviso que não desenho muito bem.
Quando eu os vi foi
aquela gritaria, nos abraçamos e depois entramos na escola, no meio daquele
povão. Ficamos assustados com a quantidade de gente, alunos, professores,
coordenadores e ninguém fazia fila! Nos sentamos em um dos bancos do pátio que
parecia ser um lugar seguro e já começamos a falar sobre as nossas
expectativas.
— Eu espero que entre um
menino bonito na sala esse ano! — A Mirella falou encarando os meninos do
terceiro.
— Só um? E eu?! —
perguntei com os olhos arregalados.
— Tudo bem, dois. Um para
você e um para mim.
— Não sei vocês, mas esse
povo do Ensino Médio tem tudo cara de mais velho. São tão adultos. — O Pedro
interrompeu a nossa conversa sobre o crush dos sonhos.
— E são tão lindos. Será que
o nosso terceiro vai ser assim, cheio dos gatinhos? — A Mirella apontou para
alguns meninos com o queixo.
— Vish, não olha agora,
mas a Falsiane — O Pedro olhou discretamente para trás. — está chegando.
Falsiane (vamos chama-la
assim, ninguém precisa saber o nome dela de verdade) era uma amiga nossa que
era legal, até que ela ficou meio insuportável, mas ainda conseguimos
sobreviver a ela até o oitavo ano.
— Gente, gente, babado
forte! Sabe a Nadine? — Ela empurrou a gente para poder sentar no banco —
Fiquei sabendo que ela ficou com vários meninos lá na rua do prédio dela.
Acreditam nisso? — Eu e a Mirella trocamos olhares enquanto a Falsiane falava,
sabíamos que não deveríamos acreditar em tudo o que ela falava. — Minha meta
para esse ano é perder o BV e vocês também! — Nós três a olhamos assustados.
Não éramos o tipo de
grupo que se preocupava muito com essa coisa de beijo, éramos os nerds da sala,
o povo “artístico” que os outros chamam de “estranhos”. Ainda sonhávamos com
aqueles encontros românticos de filmes e amor à primeira vista. (Háháháhá, tô rindo
para não chorar, sorry).
— Vamos nos preocupar com
isso depois, Falsiane. Temos o ano inteiro e muitas coisas podem acontecer —
falei tentando acalmar os ânimos dessa louca.
— Afe! Não me venha com
essa história que somos muito novos, saiba que minha prima está no sétimo ano e
já saiu para várias matinês. — Que bom para ela.
Nessa hora o sinal tocou
e vimos aquela multidão de gente ir para as escadas, estava difícil de andar naquele
mar de gente bem mais alta e grande que nós, mas achamos a sala do sexto ano e
entramos todos desengonçados. Sentamos nas primeiras mesas formando um
quadrado, o fundão já estava sendo ocupado pelos meninos bagunceiros que também
guardavam lugar para as meninas populares que ainda não haviam chegado.
O ruim da minha escola
era que nós (nerds) sempre procurávamos sentar na frente e os “descolados”
queriam o fundão, mas os professores SEMPRE separavam a gente e no final eu
acabava sentando sempre no fundão. Só torcia mesmo para pegar um lugar na
parede, o resto não importava desde que eu pudesse me encostar ali e ficar
confortável (além de irritar o amigo da frente chutando a cadeira MUAHAHAHA).
Estávamos conversando bem
animados, com a esperança de conhecer professores legais (primeira vez que
teríamos mais de dois professores entrando e saindo da sala) e então fomos
ofuscados pela entrada dela.
Nadine era o tipo de
menina que você sempre quis ser ou tem um ódiozinho; era bonita, inteligente,
popular, queridinha dos professores e sempre tinha tudo o que queria. Era até
bizarro pensar que ela estava na mesma sala que você quando parecia ser bem
mais velha e chamava a atenção até dos meninos das outras salas.
E é incrível como esse
tipo de gente parece ficar cada ano mais bonita. Deve ser magia negra, pacto
com o demo, eu sei lá!
Só sei que no quinto ano
a Nadine não tinha peito e nem bunda, e de repente, nesse instante que ela
passou pela porta, estava toda evoluída! Ganhou peito, bunda, fez a
sobrancelha e usava até um pouco de maquiagem. E eu nessa época nem sabia me
depilar, nunca havia usado um absorvente!
É nessa hora em que a
gente percebe que muitas coisas podem mudar nas férias, é uma loucura o que a
puberdade pode fazer de bom com certas pessoas e de ruim com outras (tipo eu
que estava com três chifres prontos para explodirem na minha testa).
— O que foi que aconteceu
com a Nadine? — sussurrou Mirella para nós três.
— Aposto que deve ser
enchimento! — respondeu Falsiane.
— Gente, não olha agora,
mas acho que as amigas da Nadine também tomaram da mesma água mágica que ela. —
Pedro apontou para a porta da sala.
E lá estavam entrando as
amigas da Nadine com seus cabelos longos ao vento, pele perfeita, um pouco de
maquiagem e sorrisos perfeitos. Cada uma tinha ganhado uma coisa diferente, uma
tinha bunda, outra tinha coxa e outra tinha peito. E eu lá, igual a uma tábua
de passar roupa.
Claro que os meninos não
paravam de olhar para elas e isso sempre deixou a gente meio mal. Poxa, eu e a
Mirella também éramos bonitinhas, porque os crushs sempre tinham que gostar das
populares?
Depois dessa entrada
triunfal, uma professora entrou na sala e se apresentou como a professora de
português. O resto do dia foi assim, meio estranho, conhecemos quatro novos
professores e ficamos o dia inteiro fazendo atividades para nos conhecermos
melhor. A hora do lanche foi bizarra, meu grupo ficou num canto para não sermos
esmagados pelos grandes, mas as populares e os bagunceiros andavam por aí como
se fossem os donos da escola, até fizeram amizade com um povo do oitavo ano.
Alguns meninos falavam
que tinha nascido um fio de cabelo no peito deles (que era mais liso que bumbum
de bebê) e as meninas falavam que já tinham comprado sua primeira maquiagem. Até
o material escolar que antes era colorido e cheio de bichinhos, tinha ficado
mais sério, cadernos de dinossauros viraram cadernos de times de futebol e
carros, cadernos da Barbie viraram cadernos com temas de Paris ou da marca Capricho. Nada de canetas com pompom em
cima!
Quando o último sinal
bateu, eu encarei os meus amigos e sabia que a partir daquele ano tudo mudaria.
Nós passaríamos a olhar para as pessoas de outro jeito e principalmente
para nós, começaríamos a nos preocupar com coisas que nunca antes nos
incomodaram como o peso, a aparência, o cabelo, jeito de andar, falar, de
brincar. Estaríamos conscientes de cada coisa “errada” e não poderíamos agir
como crianças, pelo menos não na frente dos coleguinhas, que seriam cruéis e
apontariam seus dedos julgadores para a gente. Pré-adolescentes podem ser
perversos na hora de debochar de um colega.
Mas sabe de uma coisa?
Tudo isso é normal, a mudança, descobrir coisas novas e errar. E muitas vezes,
essas pessoas que apontam o dedo e riem de você, também estão insatisfeitos por
dentro e aprendem mais cedo ou mais tarde a colocar essa máscara de
superioridade falsa. Ninguém que passa por essa fase está 100% feliz, nem mesmo
as populares.
Então, aproveite, se
divirta, seja você mesmo não importa o que aconteça. Lembre-se que você não
precisa provar nada para ninguém, que cada um tem um tempo diferente para
aprender e fazer coisas. Tentar se mostrar fazendo coisas erradas e perigosas é
ridículo, mas você só vai aprender isso quando crescer, porque nessa fase, nós
sempre queremos ser mais e acabamos fazendo coisas que não queremos.
2 comments
Olá, tudo bem? Gostei muito do texto, sempre fui ansiosa pra início de aulas rsrs
ResponderExcluirhttp://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/
Estou ótima e você? :3 Fico feliz que tenha gostado do texto <3
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