Imagem sob licença Creative Commons por Peggy_Marco |
Sentada no chão daquele quarto, tentando fazer com que as
paredes brancas tivessem sentido e tomassem cor. As lágrimas que escorriam do
meu rosto me lembravam que aquilo não era possível, era necessário trabalho: tinta, um rolo, jornais para cobrir o solo, uma escada para os lugares mais
altos, uma roupa velha para não se sujar... Um esforço.
Esforço o qual eu nunca tive problema em fazer, em me mexer, em tentar fazer com que tudo saísse bem. Planejamento, decisões, conversas. Sempre procurando que tudo desse certo.
Mas aqui estava eu, outra vez, vivendo um dejavú que não queria presenciar. Fechei meus olhos com força, talvez esse pesadelo acabasse e tudo estaria bem, porém, não seria um fechar de olhos que resolveria essa situação, mas sim eu com a minha força interna, ou o que sobrava dela, para dizer “basta”.
Olhei para a parede na minha frente, procurando por algum tipo de mudança nesse meio-tempo, uma rachadura, uma mancha, um rabisco de caneta, qualquer coisa. Só que ela continuava vazia, incógnita e cheia de interpretações.
Já meu coração jorrava de cores procurando onde poderia finalmente deixar a sua marca, onde poderia colorir em conjunto e pudesse criar um caminho de felicidade. Só que ali um eco gritava: “não era amor, era paixão”. Uma paixão que se esvaiu tão volátil como o vento que eu insistia em tentar agarrar e se escapava entre meus dedos.
Respirei fundo com aquele gosto amargo na boca. Era hora.
Me levantei ainda esperando alguma mudança, mas não havia nada. Deixei o quarto tão lentamente como pude e mesmo assim atravessei a porta e a tranquei, ao olhar para frente, me vi em um novo quarto de paredes brancas. Cansada de sempre me encontrar com o mesmo, decidi sair ao ar livre.
Ar puro, finalmente pude respirar sem pesos nos braços, sem necessidade de ferramentas, era mais fácil estar assim, só eu parada na frente de um mundo inteiro com meu coração esbanjando cores para mim e mais ninguém.